Muitas são as teorias que, ao longo dos tempos, tentaram explicar os fatores geradores da criminalidade. Uma das mais famosas ficou conhecida como "frenologia". Criada no século 18, a linha de pesquisa tinha como ênfase o indivíduo e afirmava que os criminosos possuíam características físicas, como saliências no crânio, que o diferenciavam das demais pessoas.
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Ao contrário da frenologia que nos dias atuais é completamente descartada pela ciência, hoje, uma das linhas de pesquisa mais populares busca essa explicação na sociedade e não no indivíduo. De uma forma geral, a sociologia acredita que o crime nada mais é do que uma resposta do indivíduo ao meio em que vive e a incidência da criminalidade depende ainda de diversos fatores sociais.
Para a cientista social Suelen Aires Gonçalves, que é pesquisadora sobre violência urbana e segurança pública, a criminalidade tem uma relação direta com o abandono do Estado. A especialista, que estuda a criminalidade na Nova Santa Marta, bairro onde mora há 20 anos, o espaço deixado pelo poder público ao não proporcionar educação, policiamento, cultura e outros direitos básicos à comunidade, acaba sendo ocupado pelo tráfico.
Quem vive o dia a dia da comunidade e lida diretamente com crianças e adolescentes confirma: "falta emprego e os traficantes oferecem benefícios". O funcionário de uma das três escolas do bairro diz que é frequente menores com drogas na entrada e na saída dos períodos de aula.
Morador do bairro desde 1992 e com a propriedade de quem conhece o cotidiano da região, ele afirma que os traficantes se aproveitam da vulnerabilidade de crianças, muitas delas filhas de mães solteiras, portadoras do vírus HIV e usuárias de drogas que acabam abandonando as famílias, deixando seus filhos "à deriva".
_ Quando a gente vai verificar, vê que ele é nosso aluno e de família bastante pobre. Mesmo assim, está vestido com roupas de marca, mesmo que a família dependa do Bolsa Família para se manter. Então, me pergunto: de onde estão vindos essas roupas e tênis de marca? Alguém está sustentando. É como a gente vê nas campanhas publicitárias, em jornais e revistas: se eu não abraço o meu filho, o traficante vai lá e abraça. E, depois que entra, não sai mais _ lamenta ele que, como a maioria, não quer se identificar.
Perigo em crescimento
Em setembro de 2013, o governo federal apresentou o resultado da mais completa pesquisa sobre o consumo de drogas a nível nacional. Conforme o levantamento feito pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), ligada ao Ministério da Saúde em parceria com a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad), do Ministério da Justiça, cerca de 370 mil pessoas, nas capitais, são usuárias de crack e similares _ cerca de 78,7% são homens com idade média de 30 anos.
Um dado ainda mais preocupante diz respeito às crianças e aos adolescentes que, segundo o levantamento, correspondem a 14% dos dependentes, o que equivale a cerca de 50 mil usuários. Mesmo que não seja exclusividade de determinada região, Estado ou cidade, ao que parece, es"